Desde que tenho memória, a minha vida tem sido virada para esta paixão arrebatadora por videojogos, desde os longínquos anos 80. A série Gran Turismo da Polyphony Digital acompanha de certa forma o meu percurso, e mais de duas décadas depois continuamos a receber propostas do amor que o estúdio nipónico tem pelo mundo automóvel. Este amor nem sempre foi correspondido por uma desejada equivalência qualitativa, mas consegue sempre transportar-me para uma estrada recheada de boas memórias, uma viagem nostálgica ao íntimo do meu coração. Gran Turismo nasceu em 1997, três anos após o lançamento da primeira consola PlayStation. Apesar de algum défice em conteúdo, trouxe uma lufada de ar fresco com a sua condução viciante, fantásticas repetições e principalmente pelo enorme prazer de conduzir. A primeira abordagem pode ser considerada como um ensaio, que culminou no lançamento do sucessor em 1999, sendo considerado por muitos como o melhor da série até aos dias de hoje.
Esta é uma introdução um tanto pessoal, mas que tem o seu significado, estamos perante o 25º aniversário da série, e Gran Turismo 7 é um passo importante no caminho certo, como verão mais à frente. Os últimos anos não têm sido fáceis para os fãs da série, que receberam em 2017 Gran Turismo Sport para a PlayStation 4, chegando a pensar-se que a consola não iria ter direito a um verdadeiro sucessor de Gran Turismo 6. Temos finalmente a chegada desta nova aposta tanto para a PlayStation 4 como para a nova máquina da Sony, a mais poderosa PlayStation 5.
Herança GT Sport e o início de um novo amor
Dizem as más língua que Gran Turismo são apenas gráficos e um salão de exposição de carros. Quem o observa com menor atenção obtém esse conceito formatado e um tanto desfasado da realidade. No centro de tamanha delicadeza e requinte temos um núcleo competitivo e efervescente, com uma comunidade vibrante e dinamizadora, movimentando múltiplos campeonatos competitivos entre jogadores de todo o mundo e devidamente patrocinados pela marca. Sei que vão contrapor que não estamos perante um simulador puro, mas a série nunca tentou ser a autenticidade da simulação, o seu propósito principal tem sido sempre o de proporcionar prazer ao jogarmos Gran Turismo, e a Polyphony Digital tem conseguido cortar a meta sempre em primeiro lugar.
Mas o que realmente consegue ser feito neste novo capítulo da série para que exista uma evolução? Vamos por partes, e retrocedamos novamente a 2017 e às muitas críticas sobre a falta de conteúdo de Gran Turismo Sport no lançamento. De certa forma defraudou algumas expetativas em termos de conteúdo, com uma campanha pouco inspirada, parco em desafios, e ausência de elementos-chave na série, mitigados a longo prazo através de atualizações. São argumentos concretos, mas aqui e agora, estamos perante uma nova era, onde o estúdio dedicou grande empenho em apetrechar esta sétima incursão com conteúdos mais vastos e até a inclusão de mudanças. Surge assim um novo tempo para este clássico, que o tornará novamente relevante e até referência em determinados parâmetros.
Temos como sempre uma apresentação trabalhada ao pormenor, a Polyphony Digital não deixa nada por fazer, entra de forma delicada para depois conquistar o nosso coração, que começa a bater mais forte a cada ronco de motor. São estas abordagens que destacam a série, estamos não apenas perante um jogo de carros, mas sim perante um cântico a uma cultura, uma aula de história automóvel, de onde saímos mais ricos e instruídos. Estas bases educativas estão presentes na série desde há muitos anos, sendo Gran Turismo 7 a glorificação de todos estes anos a investir numa autêntica enciclopédia da evolução do mundo automóvel.
Uma das notas menos apelativas do título anterior, que me fez um certo incómodo, foi a forma como o estúdio elaborou toda a gestão do conteúdo. É certo que já se arrastava desde há alguns lançamentos, mas a configuração demasiado formatada para uma apresentação em textos foi levada ao extremo em Sport. Senti muito a ausência de um mapa central, aquele mapa apelativo facilitador da navegação pelas várias opções do jogo, encontrado por exemplo em GT4 e até no fenomenal GT2. Elogio este regresso, que dá uma visão muito mais direta, agradável e até convidativa a esta nova experiência GT. Está de volta aquele perfume singular de Gran Turismo.
É neste mapa central, denominado por Mapa Mundial, que tudo é gerido, de fácil acesso e de assinalada intuição. Não temos de percorrer infinitos menus para encontrar o que pretendemos, está tudo ali à nossa vista e apenas com alguns cliques estamos onde queremos. Mas antes de avançar para o elemento base da experiência, é de referir que o jogador é colocado inicialmente numa das novidades, o Rali Musical. É uma interessante adição que nos transporta para desafios ao som de uma bela música, temos de tentar prolongar ao máximo a duração da batida à medida que atingimos os checkpoints, amealhando pontos ao longo da pista com o objetivo de alcançar o tão desejado resultado Gold. Apesar de simples elaboração, cumpre a tarefa de relaxamento ao som de belas músicas.
Regressando ao Mapa Mundial, e como referi, é aqui que tudo acontece. Como sempre, temos o infame Centro de Condução para as várias licenças. Este clássico regressa para nos viciar em conseguir todas as taças Gold. Confesso que sou obcecado por este elemento desde há décadas. O Scapes está de volta, é aqui que vamos dar asas à nossa imaginação e tirar aquelas fotografias que tanto queremos partilhar. Aqui temos mais adições em relação ao GT Sport, com muitos mais efeitos, é uma ferramenta de opções colossal, para mostramos a nossa veia artística. Dando continuidade à parte comum, o Showcase é onde vamos partilhar as nossas criações e observar as dos restantes jogadores. Podemos dar e receber feedback, e até deixar aquele comentário. É uma zona de interação para as mentes criativas de Gran Turismo.
Novamente de volta está o Brand Central, situado na parte superior do Mapa. É a zona onde estão presentes todas as marcas, com os seus carros, museus, ligações diretas às suas páginas web e até aos respetivos canais YouTube. Uma ligação íntima estabelecida pela Polyphony Digital às marcas aqui representadas. Obviamente, é no Brand Central que temos a possibilidade de comprar novos carros, havendo créditos suficientes para isso. A secção de Carros Lendários é também outro dos centros de interesse, dando a possibilidade de adquirir aquelas lendas que perpetuam pela eternidade, como o meu amado Toyota Supra GT500 de 1997.
A viagem continua até á nossa Garagem, que considero como a nossa casa. Aqui é onde guardamos todos os nossos carros, gerimos as ofertas, desde presentes por abrir passando por peças especiais ganhas que estão diretamente ligadas a determinados carros. Também podemos criar perfis para os carros, configurando-os para múltiplos eventos. Na garagem também está situada a secção de Vídeos Scapes, que permite visualizar os nossos carros em múltiplos ambientes com uma definição nunca antes vista. A Polyphony Digital criou aqui um fotorrealismo sem precedentes, é tão estonteante que nem nos apercebemos que estamos num videojogo. É de facto um patamar jamais alcançado e apenas permitido pela potência da PlayStation 5 e, claro, o talento da equipa de programadores. É inacreditável.
Stand de Carros Usados
Mas vamos apimentar as coisas, entrando agora num regresso muito aguardado, a secção da Stand de Carros Usados. A sua ausência foi muito sentida e este regresso na sua forma tradicional traz-me boas memórias. Aqui podemos adquirir carros a preços mais acessíveis, mas já com muita quilometragem e idade. Mas vale sempre a pena dar uma vista de olhos, pois nunca sabemos se vamos encontrar aquela relíquia que tanto gostaríamos de ter na nossa coleção. Outra satisfação proporcionada por estes carros, é o facto de lhes darmos uma nova vida, fazemos a respetiva revisão e apetrechamo-los com peças novinhas em folha. Sinto-me orgulhoso, após mais um resgate bem-sucedido.
Dando andamento e aproveitando a deixa da recuperação dos carros usados, ingresso agora nas opções de alterações e personalizações dos carros. Finalmente temos um lifting das opções e um regresso às origens de Gran Turismo, com as apropriadas ferramentas para configurarmos os carros ao nosso gosto. Foram criadas duas secções no Mapa Mundial, a Loja de Afinação e o GT Auto. No segundo, fazemos a manutenção do carro, desde a icónica lavagem, passando pela revisão do motor e até o alargamento da Carroçaria. É também no GT Auto que podemos personalizar o equipamento do nosso piloto, capacete e o fato, e a aparência dos carros. Temos itens de competição, asas traseiras, e tudo o que é relacionado com a estética. As opções são vastas, temos um nível de atenção a pormenores que nos fazem perder horas nesta cruzada de criar designs completamente únicos.
A Loja de Afinação é um elemento com um regresso glorificante. Esta secção é o coração da personalização de Gran Turismo 7. É um enorme acrescento em relação ao predecessor, dando uma vasta quantidade de opções que permite múltiplas configurações dos carros para diversos cenários. Ter em atenção que agora tudo gira em redor dos Performance Points (PP), que estão de regresso após terem sido abandonados em GT Sport. Os PP permitem maior flexibilidade nas configurações dos carros, pois temos várias formas de subir e diminuir os Performance Points conforme o desafio que vamos entrar. As peças colocadas num carro vão alterar os PP do mesmo, temos de ter sempre esse valor em consideração para não excedermos o limite máximo ou mínimo exigido por determinados eventos, embora nem todos possuam esse limite.
Mais uma vez as opções são de uma quantidade e variedade de enaltecer. A Loja de Afinação está dividida por categorias e todas as que adquirimos ficam disponíveis para irmos trocando no carro conforme as nossas necessidades. Não vou mencionar todas as opções porque são vastíssimas, mas destaco os estranguladores de potência, lastros, reduções de peso, nitros, e até novos motores para um “reset” ao mesmo. Aparenta demasiada complexidade, mas é tudo muito intuitivo e bem explicado. Devo referir que esta loja é um paraíso para quem ama esta vertente que estava um tanto esquecida.
Requinte do Gran Turismo Café
GT Sport sofria de uma desinteressante abordagem à Campanha, e Kazunori Yamauchi deu ouvidos às sugestões ao criar uma área de interesse central sublimemente designada de Café. O nome é uma escolha feliz, a palavra engloba na perfeição a ambição do criador. É como um retiro para nos sentarmos à mesa e conversarmos sobre o mundo automobilístico, enquanto se saboreia uma divinal chávena de café. A leveza desta configuração dá à campanha aquele requinte de classe superior. Sentados à mesa, somos presenteados com ementas que são nem mais nem menos que os desafios propostos aos pilotos virtuais. Em cada uma temos de completar desafios para obtermos os veículos lá mencionados. Sempre que completámos a lista da ementa em curso é hora de regressar ao Café para obtermos a próxima.
Mas o Café não é apenas uma zona de seleção de desafios, é também um local onde vamos encontrar personalidades marcantes do mundo automóvel. Determinados carros são presenteados por descrições dos próprios criadores, que fazem questão de beber connosco uma chávena de café ao mesmo tempo que falam sobre a origem de determinado carro. O designer Fabio Filippini faz uma aparição para falar mais sobre o Fiat Abarth 500, por exemplo. São aulas de história subtis que nos instruem, e surpreendentemente nada aborrecidas.
Além do delicioso Café, temos outra secção sobriamente denominada por Missões. Aqui somos convidados a executar um conjunto de desafios na tentativa de obter todas as taças Gold. A recompensa são mais carros para a nossa coleção, não fôssemos colecionadores de carros ávidos por preencher ao máximo a nossa garagem. Não vão encontrar aqui nada de extraordinário, apenas uma forma de experimentarem diferentes veículos em circunstâncias muito específicas.
Multijogador e Sport
Todas as componentes anteriores referenciadas culminam na derradeira experiência Gran Turismo, que são as corridas competitivas contra jogadores de todo o mundo. A série é por vezes menosprezada nesta vertente, erradamente diga-se de passagem. Os argumentos mais utilizados são de que não estamos perante um verdadeiro simulador, mas como já referi, nunca o tentou ser. A verdade é que existe um território de entusiastas, uma legião de seguidores que fazem fervilhar o mundo das competições virtuais da franquia e que aguarda ansiosamente pela chegada deste novo capítulo.
Aqui as novidades são ténues, temos o regresso de Sport e o tradicional Multijogador. Sport leva-nos até eventos calendarizados com determinados parâmetros pré-estabelecidos. Não temos aqui propriamente novidades, são corridas e até campeonatos contra outros jogadores onde a nossa reputação e nível vai ter um papel preponderante. Temos como seria de esperar dois parâmetros que determinam a nossa perícia. A classificação de Piloto (CP) e a Classificação Desportiva (CD). Estes dois elementos são a tábua de salvação destas corridas, pois ninguém pretende que o caos se instale.
Se na CP temos de ser o mais rápidos possível para elevar esse estatuto, já na CD temos de evitar um comportamento desleixado, como colisões contra outros carros. Exige-se uma condução o mais limpa possível. Em Sport temos um grande incentivo em subir o nível CP para termos acesso a campeonatos importantes. Ultimamente, este é influenciado pelo CD, um CD baixo não permite a subida do CP. Uma simbiose que resulta e evita uma comunidade demasiado tóxica em pista.
O tradicional Multijogador não acarreta profundas modificações. Podemos criar as nossas próprias salas, privadas ou públicas ou juntarmo-nos às existentes. Os parâmetros das corridas são todos modificáveis e entra aqui mais uma vez a nosso nível CP e CD, que poderá impedir-nos de aceder a determinadas salas. Por fim, é de salientar que teremos crossplay entre a PS4 e PS5 e o ressuscitar da opção Ecã Dividido para desafios caseiros.
25 anos depois... vai mais além e superar-se
Todas estas opções adjudicadas a este tremendo trabalho comemorativo dos 25 anos da série são alavancadas por modificadores concretos dos comportamentos dos carros em pista. Os mais notados relacionam-se com o revolucionário sistema meteorológico, que foi redesenhado para uma aproximação detalhada à realidade. É de facto impressionante o que a Polyphony Digital concebeu para Gran Turismo 7 no campo das condições meteorológicas. GT Sport já tinha introduzido as corridas à chuva, mas aqui as coisas estão num patamar sem precedentes. Refiro desde já que a chuva não está presente em todas as pistas, essa hipótese é colocada numa lista devidamente selecionada pelo estúdio. Espero que mais pistas recebam essa implementação.
O sistema meteorológico é concebido para se equiparar com as mudanças reais da zona em que se encontram as pistas, produzindo efeitos visuais de enorme paridade e realismo. As corridas podem iniciar-se com sol, volvidas umas voltas podemos observar o aproximar das nuvens mais cinzentas, iniciam-se os primeiros pingos da chuva que se fazem ouvir ao embater no carro. O céu fica ainda mais escuro e a chuva intensifica-se, caindo copiosamente no carro e reproduzindo um som bem evidente. Temos a recriação dos efeitos visuais devidamente acompanhados pelos sonoros, um deleite orgásmico.
As luxuosidades visuais são transportadas para efeitos reais nas físicas dos carros e das condições da pista. É tudo de um realismo nunca visto na série, com os carros à nossa frente a deixarem marcas dos pneus à medida que limpam a pista da água, alterando em tempo real as condições de aderência do piso. Na verdade, não ficámos por aqui, por vezes a pista não é afetada em toda a sua extensão pela chuva, podemos encontrar sectores em que não chove e até faz sol, havendo uma correspondência em termos de físicas, visuais e sonoros. Ainda existem outros pormenores deliciosos, como a passagem dos carros em poças de água a reproduzirem o devido efeito da água a saltar para as laterais. São particularidades destas que definem a atenção ao detalhe aqui colocado pelo estúdio. As corridas nestas condições são de um elevado grau de exigência, mas são um deleite para observarmos em primeira mão o que Kazunori Yamauchi conseguiu concretizar. É uma prova da sua paixão por este universo, que o alimenta há décadas e tenta sempre quebrar barreiras.
As melhorias substanciais das físicas tiveram a ajuda da Michelin, pilotos de renome, e Lewis Hamilton como consultor. Temos aerodinâmicas melhoradas, alterações do comportamento das suspensões que são agora mais evidentes, a deformação dos pneus com as diferentes cargas sofridas ao curvar ou até no momento das travagens, o cone de aspiração foi recriado a partir de modelos reais de comportamento, e até a perceptível influência do vento no desempenho dos carros. É um conjunto de elementos reais que são agora transportados para entregar o derradeiro jogo de corridas para as consolas PlayStation.
Gran Turismo 7 providencia uma experiência ainda mais elevada com as funcionalidades únicas dos acessórios da PlayStation 5. O DualSense transforma a condução com um comando, coloca a experiência num patamar jamais alcançado num jogo de carros. Sentimos os gatilhos a transmitir as derrapagens, o bloqueio dos pneus ao travar, as diferentes áreas de vibração a transferir toda a superfície da pista para as mãos, só mesmo jogando com o comando da PS5, as palavras não conseguem demonstrar o que é sentido. O áudio 3D também tem um papel preponderante, recria toda a envolvência do que nos rodeia durante as corridas, desde os carros a deslocarem-se em nosso redor até o som da chuva a embater no carro.
Fotorrealismo visual e um hino ao mundo automobilístico
A nível visual, artístico, nem haveria necessidade de referir alguma coisa após a observação das imagens e vídeos já revelados. Gran Turismo 7 é ainda melhor ao vivo, os vídeos não conseguem transmitir a beleza alcançada. É um exemplo do que a PlayStation 5 é capaz de entregar, principalmente quando observamos o nível da qualidade visual dos carros. São representações que muitas vezes se confundem com a realidade. Certo que nem tudo está a um nível estratosférico e existem compromissos para manter a fluidez dos 60 fotogramas por segundo. Observam-se pop-in nos detalhes dos carros distantes à medida que se aproximam, o exterior das pistas sofre um decrescimento em detalhe, desde texturas, sombras, profundidade, e o pop-in é também evidente no horizonte. São compromissos evidentes necessários para manter o fantástico detalhe dos carros e a fluidez de jogo a 4K.
Gran Turismo 7 é um hino ao mundo automobilístico e amado por milhões de aficionados. É impossível não ficarmos apaixonados por esta compilação de tudo o que a Polyphony Digital tem vindo a desenvolver ao longo destes 25 anos. Estamos perante uma requintada viajam ao mundo automobilístico através de genuínas aulas de história, conseguindo ainda reunir ícones do passado, seja em pistas como Trial Mountain, Deep Forest ou High Speed Ring, ou em regressos a nível de personalizações e opções. São quebradas fronteiras e vai mais além nas suas ambições. É criado um clássico que perdurará por muito tempo e será a referência a bater na linha da meta.
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Fonte: Eurogamer
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