Lost Soul Aside precisava ser apenas uma homenagem a Final Fantasy na forma de um hack & slash energético capaz de nos deixar eletrizados com as suas boss fights. Infelizmente, tenta ser demasiado e falha no mais importante, a qualidade da execução.
Action RPG que brilha nos combates
Inspirado pela PlatinumGames e pelas séries Ninja Gaiden e Devil May Cry, Bing desejou criar um hack and slash cuja estética é Final Fantasy, mas a jogabilidade é claramente ação japonesa de elevado estilo. Era precisamente isso que precisava ter feito, sem incorporar elementos action RPG para tentar transmitir uma sensação de maior profundidade, sem conseguir e sem realmente a ter.
Com um foco exclusivo no estilo, Lost Soul Aside não se importa sequer com a substância, sendo quase um jogo para jogar de cérebro desligado, mas isso nem incomoda quando o sistema de combate copia o melhor que as produtoras japonesas conseguiram implementar nos seus hack and slash. É um frenesim de ataques com habilidades pelo meio à lá Devil May Cry (tens até a imitação do Devil Trigger para golpes devastadores num tempo limitado), com imenso potencial para combos acrobáticos.
Kaser começa com uma arma, mas ao longo da jornada vai desbloquear mais, entre as quais podes alternar em tempo real para prolongar combos ou diversificar as cadeias de ataques. É aqui que Lost Soul Aside brilha pois torna-se divertido experimentar variações de ataques, descobrir como prolongar combos ao trocar de armas, e até estudar os frames de cada movimento de arma para descobrir qual a melhor cadeia a executar.
O sistema de combate é divertido, mas também é uma boa forma de perceber o quão disperso foi o foco da Ultizero Games na produção. Parece que não sabiam o que realmente queriam ter, por isso meteram tudo. No coração de Lost Soul Aside tens o tal hack and slash Devil May Cry com estética Final Fantasy (até certa parte, pois, depois torna-se numa fantasia chinesa), mas o sistema de combate focado em combos com estilo também inclui inimigos com barra de escudo que deves remover para causar dano.
A esquiva e defesa perfeitas da PlatinumGames está aqui (a abrandar o tempo e a atordoar o adversário, respetivamente) o que torna tudo empolgante, mas muitos inimigos, especialmente os mini-bosses e os bosses, tornam-se em “esponjas” que testam a paciência devido aos escudos que deves remover antes de começar a aplicar dano. A essência de Lost Soul Aside é, escusadamente, essa, testar desnecessariamente a tua paciência com o mau para conseguires desfrutar do bom.
O sistema de combate hack and slash é divertido e tem a profundidade necessária para nos sentirmos interessados por ele, mas os escudos, o ritmo com que surgem os bosses e os escudos podem testar a tua paciência e prejudicar o ritmo de jogo.
Mecânicas RPG e de gestão
Certamente motivada pelas produtoras japonesas que se denotaram neste género, a Ultizero Games implementou vários elementos de gestão do personagem, armas e equipamento que o aproximam de um action RPG, mesmo que muitas destas mecânicas estejam presentes num hack and slash, mas é claramente um hack and slash no seu coração.
Derrotar os inimigos permite ganhar XP para subir de nível, com pontos de habilidade a permitir desbloquear formas de prolongar combos, novos golpes e buffs para Kaser. Também apanhas itens para desbloquear novas habilidades de arena, e equipar itens com buffs nas armas, com um interessante grau de personalização envolvido.
Não é um desastre, mas ocasionalmente parece que o tenta ser
Lost Soul Aside não é um desastre, é um AA ambicioso de uma inexperiente pequena equipa chinesa que, muito acima do problema de qualidade, tem um problema de preço, mas a verdade é que para a maioria, o que poderia ser um glorioso hack and slash tonto e divertido de jogar, torna-se numa experiência com demasiadas facetas para o seu próprio bem.
Graficamente, é um jogo com imensos momentos espetaculares, mas até numa PS5 Pro exibe imensos soluços ao percorrer os cenários lineares. A equipa incluiu ainda segmentos de plataformas cuja jogabilidade e animações de Kaser vão testar a tua paciência e ajudar-te na sensação que não deves prestar atenção nenhuma à narrativa. Em várias cutscenes, numa experiência exclusivamente focada no estilo sem se preocupar com a substância, desde que fique fixe e cinematográfico, Kaser dá saltos que lhe permitiriam passar por cima de arranha-céus, mas depois tens segmentos de jogo onde sentes dificuldades com pequenos saltos entre plataformas, por exemplo.
Lost Soul Aside transmite uma forte sensação que beneficiaria com menos, para se focar numa melhor qualidade onde realmente brilha, na jogabilidade hack and slash, o que provavelmente melhoraria o ritmo de jogo e o tornaria mais frenético. Especialmente porque a sensação que lhe falta uma camada extra de polimento sai reforçada nestas cenas de saltinhos e esquivas de armadilhas, que testam os controlos, animações, frames de movimento e até a câmara de formas indesejadas, tanto pelo jogador como pela produtora.
Conclusão
Apesar dos méritos que Yang Bing e a sua Ultizero Games conseguiram na sua tentativa esquizofrénica de homenagear Final Fantasy num hack and slash, o maior mérito de Lost Soul Aside é relembrar que temos de valorizar o que de realmente bom temos. Enquanto jogava, estava constantemente a lembrar-me que se quero algo neste género capaz de me arrebatar, devia estar a jogar Devil May Cry 5, Black Myth: Wukong ou Stellar Blade. Quem já jogou estes jogos e prefere algo novo, rapidamente dará por si a pensar que se calhar o melhor teria sido jogar novamente qualquer um deles, mesmo com os ocasionais bons momentos de Lost Soul Aside,
Prós: | Contras: |
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