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Análise: Ni No Kuni 2: The Revenant Kingdom

O mundo dos JRPGs é absolutamente fascinante e a capacidade para te transportar para gloriosos mundos de fantasia continua a ser a sua mais valia. A capacidade para te levarem a universos que mais parecem saídos de fábulas, onde a exploração de mundos deslumbrantes onde habitam criaturas imponentes encontradas ao explorar masmorras, a partir de informações obtidas ao passear pelas mais belas cidades enquanto recrutas novos companheiros, continua sem rival em outros gêneros. Entre as companhias japonesas que deixaram a sua marca no gênero está a Level-5, que surpreendeu o mundo ao colaborar com a Studio Ghibli, aclamado e premiado estúdio japonês de animação, no jogo Ni No Kuni. A versão PS3 permitiu-lhe alcançar o estatuto de clássico a nível mundial, o que explica o entusiasmo que qualquer adepto do gênero sente pela sequencia.

Cerca de 6 anos depois da versão PS3 do original, a Level-5 aliou-se novamente à Bandai Namco e apresenta-te Ni No Kuni 2: The Revenant Kingdom, um jogo que combina alguns elementos que foram aclamados no original com novas ideias. Desta vez, a Studio Ghibli não esteve envolvida, mas todo o trabalho da Level-5 tentará enganar-te a todos os momentos, fazendo-te acreditar que esteve. Jogar Ni No Kuni 2 é como mergulhar num dos ricos mundos da Ghibli, especialmente pela sua estética visual, mas também pelos temas da narrativa, personagens e claro, a banda sonora do icónico Joe Hisaishi. Não é difícil ficar apaixonado pela personalidade, encanto ou doçura de Ni No Kuni 2, apoiado por um grande nível de cuidado em praticamente todos os elementos, mas existe um preço a pagar por tudo isso. Ni No Kuni 2 combina uma elevada simplicidade com uma fantástica optimização e implementação de diversos elementos,o que acabará por o definir.
Ni No Kuni 2 transporta-te para um mundo encantado onde existem quatro reinos principais: Ding Dong Dell, Goldpaw, Hydropolis e Broadleaf, com vários outros locais mágicos pelo meio. Quando o jovem Evan, o novo rei de Ding Dong Dell, é obrigado a escapar a um golpe de estado, contará com a ajuda do misterioso viajante Roland, para construir um novo reino. No entanto, Evan tem um sonho maior do que construir um novo reino, o pequeno rei quer unir todos os 5 reinos num acordo de eterna paz e que o seu reino seja conhecido pela prosperidade. É um sonho irreal, apenas possível no coração de um jovem imaturo, que encontrará diversas adversidades e terá de lidar com os vícios da raça humana, com jogos de poder e com ideologias pré-estabelecidas para alcançar o seu sonho. Isso não o impedirá.
Pouco a pouco, Evan e Roland começam a encontrar mais personagens que se sentem atraídos à sua causa, que encontram valor no seu sonho e o querem tornar realidade. O enredo de Ni No Kuni 2 é muito simples e não apresenta grandes surpresas, mas é uma espécie de JRPG com um tom Ghibli no seu enredo, o que lhe permite assumir um tom doce, esperançoso, simpático e apelativo. Não esperes grandes reviravoltas ou surpresas, é tudo muito directo e nem existem personagens capazes de te marcar, o foco da Level-5 foi, tal como no tema central da narrativa, para o todo, para o grupo, para o lema de "a união faz a força", todos partilham o destaque. A leveza da narrativa, a sua simplicidade, a sua doçura, podem conquistar muitos com o seu encanto, mas para muitos poderá ser um aspecto que se revelará demasiado simples. No entanto, é fácil reparar que a Level-5 tentou criar um JRPG para todos, com o tom de um Ghibli e capaz de capturar a criança que ainda existe em ti.
"O modo Reino deixa-te criar e expandir um território teu, tal como como num jogo de gestão e simulação".
Não é apenas a narrativa que é simples, praticamente tudo em Ni No Kuni 2 é acessível e extremamente direto, assumindo-se como um JRPG que podes jogar nas calmas, sem quaisquer problemas, onde o sistema de combate também é altamente acessível e o grinding praticamente inexistente. Ni No Kuni 2 é um jogo praticamente desprovido de dificuldade, mas não é fruto do acaso ou falha da Level-5. Desde a primeira hora de jogo que reparas que a equipa pretendeu desde sempre uma experiência sem frustrações ou dificuldade. Na primeira hora de jogo tens acesso ao Fast Travel (Trip Doors) e podes navegar pelo mundo com grande facilidade. Voltar a sítios por onde já passaste e cumprir as missões é muito rápido e intuitivo pois não tens de percorrer grandes distâncias só porque sim. Usas o Fast Travel e está feito. A Level-5 pretende que saboreies a experiência, que entres no mundo de Ni No Kuni 2 para sentires como se tivesses a mergulhar numa espécie de livro encantado e não num JRPG que desafiará as tuas capacidades enquanto jogador.

Assim que escapas de Ding Dong Dell, entras no mapa mundo e aqui a Level-5 volta a homenagear os clássicos de outrora. As personagens assumem um aspecto chibi e a perspectiva aérea sobre o mundo 3D (onde a qualidade gráfica fica inferior) deixa-te vaguear com toda uma sensação de aventura pela frente. Quando entras em contacto com um inimigo, visível no mapa, ou quando entras numa cidade ou locais específicos, o estilo visual volta ao tom Ghibli que parece um desenho animado interativo. É aqui que Ni No Kuni 2 funciona no seu melhor, sem ecrãs de carregamento entre as batalhas, a combater com os inimigos ao bom estilo Action RPG onde o martelar dos botões pode servir em alguns casos, mas noutros precisas de mais. O sistema de combate é muito simples e muito direto, mas existem mecânicas que tentam incutir profundidade no sistema.

Dentro da primeira hora de jogo encontrarás os Higgledies, pequenas criaturas de diferentes elementos que podes encontrar e recrutar. Alguns podem curar-te, outros podem atacar com fogo ou outro elemento. Serão uma preciosa ajuda nas batalhas onde martelar os botões não chega, onde precisas de estratégia e onde usar os ataques especiais nem sempre é a opção mais viável. Ni No Kuni 2 relembra muito o que a Bandai Namco faz na série "Tales of", mas os Higgledies apresentam um conceito muito próprio e ajudam a adicionar uma camada de profundidade ao sistema. No entanto, tal como tudo em Ni No Kuni 2, a dificuldade do jogo é baixa e mesmo perante inimigos 20 níveis acima do teu, terás uma possibilidade e usando alguns itens, conseguirás vencer. Apenas algumas bestas mais duras, como as "Tainted Beasts" serão um adversário de real valor, apenas para quem quer um desafio acima do resto. Mesmo num nível similar ao teu, serão devastadoras. Outros desafios, como os Kingmakers (imponentes criaturas que protegem cada reino) apresentam algumas das batalhas mais interessantes, com mecânicas diferentes e que realçam o papel dos Higgledies.

A Level-5 tenta equilibrar a acessibilidade com modos como o Skirmish ou Kingdom, que coexistem com a experiência JRPG tradicional e estão intimamente ligados à progressão em vários momentos (especialmente o Kingdom). Ni No Kuni 2 poderia facilmente terminar muito mais cedo .Demoras cerca de 30 horas para ver o final, não fossem estas suas duas outras facetas que o expandem muito além do tradicional JRPG. É muito interessante ver a Level-5 a implementar modos de jogo raros de ver no género, talvez já seja esperado numa era de híbridos. O modo Kingdom é uma espécie de modo de gestão em tempo real, que será necessário para progredir em dois momentos do jogo e onde podes aceder aos melhores itens do jogo. Este modo Kingdom está intimamente ligado à essência de Ni No Kuni 2, muito mais que o modo Skirmish, pois torna toda a ideia de "Side-Quests", elemento fulcral e que pode definir um JRPG, num dos seus mais interessantes e divertidos aspectos.

A grande maioria das side-quests terminam com o recrutamento dessa pessoa para o teu reino, onde (dependendo da sua função) será colocado num dos vários locais para investigar, treinar, ajudar a melhorar o reino ou simplesmente permitir o acesso a novas habilidades/itens. É uma simbiose que resulta muito bem e transforma Ni No Kuni 2 num título peculiar e singular dentro do seu género. A leveza da experiência ganha longevidade e interesse, denotando que a Level-5 geriu cuidadosamente a arte da simplicidade. Permite-te o acesso a uma experiência muito simples, mas com diversas formas para ocupar o teu tempo e melhor ainda, deixar-te divertido enquanto o fazes. Em tempo real, os teus cofres vão-se enchendo e terás de investir esse dinheiro em instalações onde serão feitas pesquisas, construídos itens, recolhidos materiais e tudo o mais que é necessário para melhorar o reino e a tua party.

Além de aprofundar o mundo e desfrutar da mesma doce leveza da qual foi fabricada a essência de Ni No Kuni 2, as side-quests dão-te novos habitantes para o reino, que por sua vez te podem dar acesso a mais side-quests, EXP para subir o nível dos personagens e são também a principal forma de ganhar acesso aos melhores itens, armas e objetos do jogo. É fácil ver que a Level-5 trabalhou imenso e bem para que o modo Kingdom se tornasse numa parte natural de Ni No Kuni 2, conseguiu. Mesmo quem não gosta do gênero de gestão, não se sentirá forçado a passar aqui o seu tempo, caso não queira, mas facilmente verá o quão benéfico se poderá tornar.
 A melhor sensação que podes ter ao jogar Ni No Kuni 2 é sentir que é um jogo diferente, distinto, que faz da sua simplicidade uma das suas grandes qualidades. Numa era de grande diversidade, a Level-5 entrega-te um título muito próprio dentro do seu género, um título desprovido de mecânicas artificiais para prolongar a sua longevidade ou aumentar a dificuldade. Um título onde és convidado a explorar um "mundo Ghibli" e a sorrir com essa simples premissa. Será fácil terminar Ni No Kuni 2 e sentir que podia ter durado mais, que nenhum personagem convenceu, mas também será fácil sentir que foi uma experiência que te enriquece, motiva e apaixona. Mesmo que o enredo seja simples, o sistema de combates dinâmico, fluído, mas talvez demasiado directo e sem dificuldade, sentirás que a Level-5 traçou um equilíbrio muito delicado e aceitável.

A Level-5 não trabalhou com a Studio Ghibli na sequela, mas não prescindiu do sensacional compositor Japonês Joe Hisaishi para a banda sonora do jogo. Quem é fã deste mestre Japonês e quem se apaixonou pelos filmes da Ghibli sabe do que é capaz e o seu som característico eleva Ni No Kuni 2 a um patamar de excelência. Não é difícil sentir que esta é uma das melhores bandas sonoras da geração, mas o trabalho do senhor Hisaishi vai mais além do que dar uma personalidade Ghibli ao jogo. A banda sonora de Ni No Kuni 2 é composta por temas que se tornam na alma do jogo em si, que nos fazem sentir os cenários, sentir emoções nas diferentes cenas, que nos arrepiam, nos empolgam, nos deixam motivados para descobrir mais, explorar mais, até surpreender. É um prazer poder escutar os temas do senhor Hisaishi enquanto jogamos Ni No Kuni 2.

Combinado com os visuais que te vão enganar e sugerir que a Studio Ghibli esteve envolvida no jogo (é um dos maiores méritos que posso dar à equipa que o desenvolveu) a banda sonora trabalha para deixar em ti uma marca que não quererás esquecer. É o poder dos videojogos que se podem transformar em arte interativa quando os astros se alinham. Nas componentes visual e sonora, alinharam-se. Isso não quer dizer que esteja irrepreensível. Ao navegar pelo mapa mundo e no modo Skirmish, as texturas de menor qualidade e o menor detalhe no ambiente chibi contrastam com o desenho animado vivo de estética Ghibli que tens nas cutscenes, cidades ou masmorras. É um pequeno contraste que sentirás fortemente ao alternar entre locais.

Ni No Kuni 2 é um dos JRPGs mais divertidos que tive a oportunidade de jogar nesta geração e mesmo sem fazer nada de novo, consegue assumir-se como uma encantadora e robusta experiência. A Level-5 arriscou ao tornar o modo Reino como o verdadeiro processo para expandir a longevidade, ao tornar a narrativa ligeira e o sistema de combates demasiado simples, mas tudo o que fez foi feito com grande cuidado e bem optimizado.

Quando os créditos começam a correr, a sensação é a de ter jogado um deslumbrante título cuja doce alma e adorável estética vão permanecer comigo durante muito tempo. Ni No Kuni 2 é um jogo extremamente acessível, quase desprovido de dificuldade, com um sistema de combate dinâmico que apesar de divertido não acrescenta nada de novo, mas o que mais surpreende neste título é mesmo a forma tão fácil com que nos consegue agarrar e deixar totalmente apaixonados. O tom Ghibli da experiência é o grande responsável por isso, mas não se aplica somente aos visuais, aplica-se ao tom da narrativa, às personagens e à personalidade de cada local. Ni No Kuni 2 não é o JRPG mais ambicioso que vais jogar nesta geração, mas é um dos mais carismáticos e encantadores que conhecerás se lhe deres a oportunidade.

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