Forspoken tem muito de divertido no seu gameplay de magia e parkour. Há imensos momentos interessantes na narrativa, mas a execução e a forma como foi construída a experiência deixam a desejar. Isto sem falar na fraca qualidade dos gráficos.
Forspoken veio mostrar como a vida de um fã da Square Enix pode ser simultaneamente maravilhosa e dura. Falo dos fãs que adoram esta casa japonesa e estão sempre atentos aos seus jogos; não dos paraquedistas que apenas se lembram dos seus jogos para a guerra de consolas. Esses não merecem atenção ou respeito. Falo dos que viram Valkyrie Elysium, Dragon Quest Treasures, Diofield Chronicle, Star Ocean: The Divine Force e Various Daylife chegarem no espaço de 5 meses sem qualquer visibilidade e ficaram com o coração nas mãos, agarrados ao remake de Crisis Core e esperançosos de um espetacular Forspoken.
Após Final Fantasy 15 em 2016, Forspoken é apenas o segundo jogo da Luminous Productions. Confesso que jamais imaginaria este estúdio da Square Enix a cometer alguns dos mesmos erros neste projeto. Tens a mesma abordagem que mistura gameplay de tom excentricamente japonês com uma estética ocidental, algo que até resulta. Mas no geral, Forspoken é uma série de boas decisões assoladas por más escolhas em igual medida. Jogar Forspoken foi muito mais divertido do que pensava, mas com a constante impressão que falta algo, sensação reforçada pelos ocasionais rasgos de brilhantismo que o jogo enverga.
Existe muito que funciona em Forspoken e outro tanto que não. É meramente competente, quando podia ser glorioso. Um dos melhores exemplos de como a Luminous falhou em executar as suas boas ideias está na narrativa. Consequentemente é algo que também diz respeito ao design da experiência num mundo aberto. Nesta experiência de parkour e magia para navegar de forma acrobática e eletrizante por um espaço aberto, na forma de um desolado mundo medieval de fantasia à beira do apocalipse, Forspoken consegue um gameplay raro de ver e muito divertido. No entanto, a primeira metade da campanha testa a tua paciência e poderás sentir que voltaram a cometer uma falta de coerência no design da narrativa.
Somente na segunda metade começas a ter bons momentos, boas cinemáticas, revelações que elevam a narrativa além do estatuto de meme que as redes sociais lhe querem impingir. Há um grande charme na narrativa de Forspoken que a torna interessante, se investirmos atenção e tempo. Para lá chegar precisas de aturar 6 horas (a jogar em linha reta) de restrições no gameplay e poucos movimentos acrobáticos e magias. Ainda assim, sinto que Forspoken revela um surpreendente respeito pelo teu tempo. Podes optar por seguir a campanha em linha reta e terminar em menos de 14 horas, como eu, com pouco de opcional feito. Mas também podes entrar nas inúmeras atividades espalhadas pelo mapa aberto.
Uma vez que somente antes da batalha contra o último boss terás todos os movimentos parkour e magias, fica a sensação de que a verdadeira diversão só começa quando os créditos terminam. No entanto, a maioria dos jogadores já estará saturada de Forspoken e do que tiveram de aturar até aí chegar. É uma decisão bizarra, ter este recreio virtual de fantasia e este gameplay com possíveis contornos eletrizantes, para o restringir na maioria do tempo passas a jogar.
Forspoken posiciona-se num frágil equilíbrio entre o que resulta e o que não resulta. Não obstante, este Action RPG em mundo aberto é decididamente uma excêntrica experiência japonesa que consegue coisas boas. Especialmente porque a mistura entre parkour e magia resulta em algo muito divertido de jogar. Frey, a protagonista que é transportada de Nova Iorque para Athia (este reino de fantasia medieval à beira da sua destruição pelas mãos das suas antigas protetoras) consegue percorrer rapidamente os 4 reinos do jogo por onde a Ruptura se espalhou. Aqui habitam criaturas temíveis, que ela pode enfrentar de forma acrobática, sejam humanos ou bestas corrompidas. A partir de Cipal, a única cidade onde os humanos ainda conseguem sobreviver, partirás para cada reino para enfrentar as Theias e tentar salvar a humanidade.
O gameplay é super divertido e seja a correr pelos cenários, escalar montanhas ou combater, usar as magias ou parkour é muito fácil e intuitivo. Graças ao feedback reunido com a demo, a Luminous refinou o gameplay de combate e existem várias formas de personalizar estas mecânicas. Atacar e trocar de feitiços é rápido e prático, o que ajuda a tornar fluida a ação. Os inimigos tem o seu elemento que os torna suscetíveis a diferentes magias e isto cria alguma profundidade no gameplay de ação. No entanto, o que poderia ser um gameplay brilhante torna-se cansativo nas primeiras horas devido às restrições relacionadas com a campanha, como já referido. Poucas magias e movimentos parkour, o que torna atravessar os primeiros dois reinos um pouco aborrecido.
Além disso, não te esqueças que por cada coisa boa, Forspoken tem outra má e aqui é a câmara. O sistema de lock-on deixa imenso a desejar, mas diria que a câmara deixa muito mais. O sistema de câmara é muito mau e parece detestar o jogador, o que num jogo destes se torna altamente prejudicial. O fluir da ação é constantemente quebrado, a diversão fragmentada e o que deviam ser momentos de pura adrenalina tornam-se em desafios de paciência enquanto estás a corrigir a câmara. Junta a isto a qualidade gráfica fraca (existem ocasionais momentos que impressionam, mas na maioria do tempo deixa a desejar) e Forspoken tem imenso que funciona contra si mesmo.
Diria que a fraca qualidade gráfica geral de Forspoken é mesmo um dos elementos que mais desiludem. Comparado com Final Fantasy 15, Forspoken parece um jogo sem vida, com mau uso da iluminação, das sombras, e com problemas de texturas. Nos modos de Qualidade a 4K e Rastreio de Raios, a imagem fica mais bonita, mas o gameplay de parkour mágico em mundo aberto combina muito bem com os 60fps. Na PS5, onde o jogamos, Forspoken fica com uma qualidade de imagem muito fraca, pouco nítida, e difícil de tolerar. Juntas isto os NPCs repetidos por Cipal e alguns problemas de animação nos habitantes da cidade, e tens elementos que danificam a experiência geral. Revela uma falta de atenção aos pequenos detalhes, que o afastam das grandiosas experiências.
Forspoken pode ser resumido como um Action RPG em mundo aberto com uma inesperada fraca qualidade gráfica, mas que se diferencia pelo seu gameplay de parkour e magia. A fantasia deste mundo medieval tem muito apelo, especialmente quando a narrativa acerta e as boas cinemáticas aparecem, capazes de destacar a sua banda sonora de alta qualidade, com um design de progressão que levanta algumas questões. Deixar para depois da campanha o expoente do gameplay é uma decisão de encorrilhar sobrancelhas. Nem todos vão permanecer aqui ou sentir que devem primeiro terminar a campanha rapidamente para depois enfrentar atividades opcionais com todos os poderes. De igual forma, Frey amadurece ao longo da jornada e conquista, mas o caminho para lá chegar é assolado por problemas que não deviam existir.
Com os créditos de Forspoken a passar no ecrã, fica a clara sensação de que as boas ideias da Luminous Productions mereciam uma muito melhor execução e menos trapalhada. Muitos dos erros de Final Fantasy 15 voltaram a ser cometidos em Forspoken, com outros tantos em cima a servir como um peso excessivo para o que de bom consegue. O gameplay frenético de parkour com magia e a narrativa mereciam melhor design e execução, sem mencionar a componente gráfica, o desempenho, e elementos fulcrais como a câmara. Forspoken tem o seu encanto, mas comete erros graves.
Prós:
- Parkour e magia resultam num gameplay divertido
- A campanha conquista graças à segunda metade
- Imensos desafios opcionais no mundo aberto para usar a magia e parkour
- Banda sonora de alta qualidade
- A qualidade gráfica deixa muito a desejar
- Os 60fps na PS5 precisam de grande sacrifício na nitidez da imagem
- As primeiras horas, com poucas magias e movimentos parkour, podem testar a tua paciência
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