O eco de Tsushima nas terras de Yōtei.
Ghost of Yōtei é um mundo aberto belo e refinado, com combates brutais e espetaculares. A narrativa oscila entre momentos poderosos e outros mais previsíveis, mas no geral é uma aventura que nos envolve. Visualmente está lindíssimo na PS5 Pro, fluído, apesar de alguns stutters ocasionais.
Ghost of Yōtei chega como o novo exclusivo da Sucker Punch para PlayStation 5, um estúdio cuja assinatura é a criação de paisagens digitais arrebatadoras e combates de precisão. Desde cedo se percebeu que não se tratava apenas de um herdeiro de Ghost of Tsushima, mas uma nova história inserida no mesmo legado, desenhada para tirar o máximo partido do hardware atual e envolver-nos tanto com o seu impacto visual como pela solidez da jogabilidade.
São 300 anos após os acontecimentos de Tsushima, que nos transportam para o distante norte do Japão do século XVII, uma região acidentada e inexplorada marcada pelo contraste entre a sua beleza natural e o seu ambiente selvagem. É um território marcado por montanhas imponentes, vales cobertos de neve, aldeias cheias de vida e tradições culturais, que servem de pano de fundo para a jornada de Atsu.
O jogo combina a liberdade de um vasto mundo aberto com a intensidade de combates sincronizados, reforçando o legado de Ghost of Tsushima e ao mesmo tempo introduzindo novas formas de jogar. Aventurarmo-nos pelas encostas do Monte Yōtei, encontrar personagens com pequenas histórias para contar e absorver os gestos culturais e as tradições da região foi como caminhar dentro de uma pintura viva, onde cada momento se transformava num espetáculo visual e numa narrativa delicada. Mais do que uma simples sequela, senti que era uma evolução meticulosamente trabalhada de um universo já familiar, que agora respira com uma nova força.
Narrativa: Vingança, Emoção e Alguns Deslizes
No centro da narrativa está Atsu, uma mercenária solitária perseguida pelo seu passado e motivada pela vingança contra aqueles que destruíram a sua família. Embora se encaixe na clássica história de vingança, o enredo expande-se, revelando segredos do passado de Atsu, mistérios da região de Ezo e vários personagens que enriquecem a jornada. A premissa, à primeira vista, até tem força, mas rapidamente percebi que a narrativa não traz nada de novo. É aquela típica história de vingança que já vimos noutros jogos, ao ponto de me fazer lembrar Assassin’s Creed Shadows, quase como se os dois tivessem sido pensados em paralelo.
Apesar dessas limitações, há momentos emocionantes e reviravoltas que conseguem prender a atenção do jogador. A progressão da história é feita de forma gradual, combinando encontros planeados, investigação e desafios que ajudam a desvendar o paradeiro dos Yotei Six. Esta estrutura dá consistência à narrativa e mantém o interesse, mesmo quando algumas missões parecem arrastadas ou pouco originais.
Combate: Uma Dança Coreografada
O sistema de combate em Ghost of Yōtei foi para mim um dos pontos mais altos de toda a experiência. Desde o início senti que estava perante algo conhecido de Ghost of Tsushima, mas claramente mais trabalhado, mais refinado e exigente. Cada arma que o jogo disponibiliza tem a sua utilidade em contextos distintos: as duas katanas são rápidas e brutais em grupos numerosos, enquanto a katana tradicional mantém o equilíbrio ideal para duelos diretos. O fato de podermos treinar com vários mestres para aprender estilos e técnicas específicas dá uma sensação de progressão natural, como se realmente estivesse a moldar a forma de combate da Atsu.
Os inimigos não são meros figurantes no campo de batalha, punem cada erro e se eu não dominar as técnicas, sou rapidamente eliminado. Essa brutalidade obrigou-me a jogar com mais disciplina, a observar padrões, a escolher o momento certo para atacar e recuar. Quando finalmente entrei no ritmo, o combate tornou-se uma espécie de dança coreografada intensa e espetacular, na qual cada golpe e cada esquiva pareciam encaixar-se com rigor e precisão. São daqueles raros momentos que não apetece acabar com os duelos, porque cada luta é uma recompensa em si mesma.
Também gostei da forma como o combate me permitiu variar a minha estratégia: desde confrontos diretos em campos abertos até ataques mais furtivos, tirando partido do ambiente para ganhar vantagem. E aqui o jogo conseguiu um bom equilíbrio: mesmo que eu optasse por ser mais estratégico e silencioso, em algum momento acabava sempre por ter de enfrentar o caos da batalha.
Senti que o combate em Ghost of Yōtei é quase perfeito na sua execução, sem grandes falhas a apontar. É desafiante, mas ao mesmo tempo acessível, depois de se dominar as mecânicas. Um verdadeiro deleite para quem gosta de duelos intensos e sente que cada conquista foi alcançada com esforço e precisão.
Já a presença do lobo, é um acréscimo interessante, mas que não acrescenta muita coisa. Permite novas opções estratégicas em certas situações e pode salvar o jogador de uma morte certa, reduzindo a penalidade pelo fracasso. Acaba por facilitar demais algumas situações, diminuindo o desafio em certos momentos.
O jogo também adiciona mecânicas úteis sem chegar a transformar a própria experiência. O monóculo permite observar à distância, os mapas secundários ajudam a descobrir segredos e o inventário simplificado facilita as atualizações das armas. São estas melhorias graduais e pormenores de design que fazem de Ghost of Yōtei um jogo atrativo e recompensador, combinando combate refinado, exploração rica e pequenas novidades que fortalecem a ligação do jogador ao mundo do jogo.
O mundo aberto: Cultura e espetáculo visual
Explorar o vasto mundo aberto de Ezo é igualmente gratificante. Aldeias repletas de vida, acampamentos temporários que aparecem e desaparecem, NPCs que se movimentam e atividades variadas que criam um cenário autêntico e dinâmico. Andar a cavalo torna-se uma experiência única: o cavalo ajusta a sua velocidade ao terreno e a nova câmara panorâmica em certas regiões realça a beleza do ambiente, permitindo contemplar planícies, montanhas e campos repletos de flores enquanto se avança na jornada de Atsu.
Ghost of Yōtei distingue-se pelo seu mundo aberto rico e dinâmico. Explorar Ezo é qualquer coisa de especial, com os NPCs a deslocarem-se entre regiões, acampamentos e pequenas interações que tornam o enquadramento realista. A região e os arredores do Monte Yōtei têm uma impressionante diversidade visual, desde campos e planícies repletos de flores a montanhas cobertas de neve e aldeias cheias de vida, que reforçam a sensação de vivência num Japão feudal.
Cavalgar com a nova funcionalidade é uma delícia. Em algumas áreas do mapa, é possível escolher entre duas câmaras: uma panorâmica, que mostra a paisagem deslumbrante de todos os ângulos, e uma mais tradicional. O movimento do cavalo adapta-se ao terreno e há até campos de flores brancas onde é possível ganhar velocidade extra, tornando cada viagem ainda mais rápida.
Além da exploração, Ghost of Yōtei investe em atividades culturais que aprofundam a conexão do jogador com a tradição japonesa. Tomar banho em fontes termais, tocar shamisen, visitar santuários ou pintar em sumi-e são detalhes que enriquecem, mesmo sem afetar diretamente a jogabilidade. A possibilidade de revisitar as memórias de Atsu e transformar a sua casa dá-lhe um toque artístico enternecedor, enquanto algumas apresentações cinematográficas, com um estilo que lembra os westerns adaptados ao Japão feudal, reforçam ainda mais a qualidade estética do jogo.
Ritmo e duração
A campanha principal de Ghost of Yōtei, incluindo a exploração de algum conteúdo extra, pode ser concluída em cerca de 25 horas. Para a maioria dos jogadores essa duração é equilibrada, evita a sensação de um jogo muito curto mas sem se tornar exaustivo. Permite explorar o mundo de Ezo à nossa vontade enquanto progredimos na narrativa.
Apesar desta duração adequada, o ritmo narrativo tem algumas irregularidades. Certas missões são desnecessariamente longas, com diálogos extensos e sequências que podem tornar-se cansativas. Uma missão em particular tornou-se especialmente penosa devido à sua dimensão, pondo à prova a minha paciência, dando a sensação de que alguns momentos da campanha são demasiado longos sem que houvesse necessidade para isso.
Em contrapartida, há desenvolvimentos narrativos e momentos de ação que equilibram esses períodos mais lentos. A diversidade de atividades secundárias, combinada com combates bem construídos e a exploração de um mundo dinâmico, ajuda a manter o interesse. No final, embora o ritmo seja irregular, a experiência geral continua atraente e satisfatória.
Desempenho e fidelidade visual
Joguei Ghost of Yōtei na PS5 Pro, onde existem quatro opções visuais e acabei por escolher o modo Ray-tracing Pro. Para mim este modo é o mais adequado, pois entrega um bom nível gráfico sem sacrificar a fluidez, já que consegue manter 60 fotogramas por segundo. A qualidade visual é na sua maior parte fantástica: há áreas em que o jogo parece uma autêntica pintura interativa, momentos de pura arte cinematográfica que me deixaram a contemplar o ecrã. É claro que nem todas as áreas estão ao mesmo nível, algumas são mesmo exuberantes em detalhe, mas no geral o jogo tem gráficos que mostram as capacidades do console.
A nível de desempenho, está bastante sólida e estável, apesar de algumas problemas ocasionais. Aqui e ali, ocorreram alguns stutters, sem qualquer padrão ou ligação a áreas mais pesadas, como se fossem problemas aleatórios. Felizmente nunca afetaram seriamente a jogabilidade nem arruinaram o ritmo da ação, ams estão presentes. Senti que Ghost of Yōtei entrega exatamente o que se esperaria de um título otimizado para a PS5 Pro: um espetáculo visual sólido e consistente, digno do hardware e com a fluidez necessária.
Conclusão
No final, Ghost of Yōtei deixou-me dividido. É um jogo extremamente competente, com combates espetaculares, um mundo aberto vibrante e deslumbrante e várias mecânicas refinadas que tornam a experiência mais fluida e prática. Mas falta-lhe ousadia. Tudo o que encontrei já tinha visto antes em Ghost of Tsushima, só que agora muito mais polido.
A narrativa é o ponto mais fraco: previsível, com escolhas por vezes infantis e até incoerentes, mas também capaz de entregar algumas partes emocionantes que mostram o potencial que poderia ter tido se houvesse mais consistência.
Ghost of Yōtei não é um jogo mau, muito pelo contrário. É um bom entretenimento, que me proporcionou várias horas de satisfação, mas também alguns momentos aborrecidos. Fica a sensação de que é uma obra perfeita em muitos aspetos técnicos, mas sem aquele toque criativo que a tornaria memorável.
Prós: | Contras: |
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Pelo que sei o game é flop. Sites progressistas falam que o game é um sucesso de vendas. A Sony vem ocultando as vendas de Yotei e derrubando campanhas de marketing do game.