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Analise: Street Fighter V Arcade Edition

A celebrar 30 anos, Street Fighter é uma das mais populares e reconhecidas séries no âmbito dos jogos de luta. Com o original lançado em 1987, peça essencial na máquina que haveria de ganhar consolidação na sequela através de Street Fighter II, a Capcom criou um dos mais extensos universos, agregando personagens dotadas de vários estilos de luta, sem nunca perder de vista a garantia de equilíbrio e a dificuldade que normalmente se associa a este tipo de experiência. Um fighting game é sempre um osso duro de roer e qualquer pessoa que tenha jogado numa arcade sabe que mesmo aí, chegar ao fim do périplo com apenas um crédito, não é para qualquer um. É daquelas experiências que só se domina com muito treino e por isso, para jogar entre os melhores, há que subir a fasquia.

Pese embora as sucessivas versões, a Capcom soube quase sempre ao longo destas três décadas encontrar diferentes esquemas e soluções que haveriam de marcar cada edição. Enquanto que em Street Fighter II assistimos à definição de muitos elementos estruturais da série, modificando muito do original ao ponto de parecer outro jogo, em Alpha as V skills projectaram uma nova ramificação no combate. Street Fighter III conheceu o sistema parry e em Street Fighter IV foi o "focus attack" a base da nova entrada. Já em Street Fighter V é a barra V que começa por fazer a diferença, para lá do novo desenho das personagens e cenários. Mantendo a estrutura típica de combate em 2D (personagens e cenários continuam em três dimensões), em termos de mecânicas e combate, SF V é uma das mais sólidas e interessantes experiências no género.

Mas ao contrário do concretizado em Street Fighter IV, quando em 2008 a Capcom chamou com toda a glória os fãs para o regresso da sua icônica série, depois de anos afastada das luzes da ribalta, a quinta edição não andou longe do que se pode caracterizar como um disparo de pólvora seca, quase uma falsa partida, ao ponto de desacreditar muitos dos que durante anos e décadas apostaram nas suas arenas de combate para evoluir enquanto "fighters". A ausência de opções em torno de um jogador, as dificuldades nos servidores e um impregnado sistema de microtransações, lançaram a desconfiança sobre se algum dia a Capcom seria capaz de reconfigurar e reerguer a sua maior série no quadro dos jogos de luta.



Quando SF V saiu em 2016, fica a sensação de uma editora que se preocupou em demasia com o mercado e a performance em termos financeiros, ignorando muitos aspectos que haviam tornado essenciais as anteriores edições. Deliberadamente prescindiram de uma série de opções cruciais só para garantir a viabilidade online e a que os jogadores investissem adicionalmente para lá da aquisição do jogo. A sensação de um trabalho inacabado apoderou-se dos que puderam experimentar logo após o lançamento, e as tentativas de remendar uma má opção, ao inserir um modo história propriamente dito, só mostraram que a Capcom tinha tudo preparado para entregar aquilo que os fãs queriam, mas nunca ao começo, a fim de garantir a viabilidade das pequenas transações que praticadas por milhares representam valiosas somas nos cofres.

Felizmente, a Capcom apercebeu-se do erro que cometera no lançamento de Street Fighter V e partiu atrás do prejuízo, procurando recompor a situação e voltar a proporcionar um jogo de combate não apenas sólido e equilibrado mas à altura das expectativas dos fãs. É isso que representa a Arcade Edition, o lançamento de uma nova versão física, o "upgrade" gratuito para quem tenha a edição original e uma nova arcada exclusivamente para o Japão.

Sobre a Arcade Edition de Street Fighter V pode-se dizer que chegou com quase dois anos de atraso e que este deveria ser o começo da quinta edição da série. Na verdade, à luz da recente transição no nome e das atualizações passadas, encontramos um quadro de opções generoso, melhorando muito daquilo que era excelente da quarta edição, com novos desafios, mais opções e uma base online melhor integrada. É verdade que em termos de "inputs", esta quinta edição é talvez a mais acessível. A Capcom já disse que era sua intenção levar a série a uma nova audiência - e tem sentido que o faça se quiser continuar o legado e o passado de sucesso nas novas gerações -, mas os melhores e aqueles que cresceram com a série, saberão como tirar proveito dos generosos e magníficas combinações que se abrem a partir do momento que ativamos a barra V, que em conjugação com os segmentos de EX, uma recuperação da terceira edição da série, proporcionam um vendaval incrível de ataques. Na prática o jogo está um pouco acessível, mas a dificuldade característica da série continua bem presente, pelo que para o proveito máximo o treino é fundamental.


Após descarregarem a actualização ou acederem à versão final por via digital ou física, a primeira coisa que vão notar é a série de melhoramentos na gestão das opções e menus, bem como os efeitos à entrada para os combates, com menção para dia do combate, uma sequência composta por uma rede de holofotes, voz do narrador e detalhes específicos sobre as personagens (seus likes e deslikes). O único apontamento negativo que faço após abrirem o jogo é o imenso tempo que leva a conectar aos servidores assim que abrem o jogo. É quase um minuto o compasso de espera até acederem ao ecrã principal. O tempo de espera até entrarem num combate também é significativo, mas é um pouco habitual no género e por isso aceita-se, embora em SF IV o carregamento seja mais rápido.

Destaque para a nova introdução da Arcade Edition, o primeiro segmento cinematográfico, não só está bem conseguido como revela uma arte muito próxima da que serve as personagens e os cenários desta quinta edição. Sakura é uma das protagonistas desta sequência, sendo que apesar de fazer parte de um terceiro grupo de lutadores a chegar mais adiante (terão que adquirir separadamente), se encontra temporariamente disponível, possibilitando um primeiro contacto.

Passando aos principais modos de jogo e novidades, o destaque vai para a presença, finalmente, de um devido e genuíno modo arcade. Ausente no original, o modo arcade é a primeira opção a percorrer fora do quadro multiplayer. Foi sempre um pilar da série, um mandamento nas versões arcade. Desta vez a Capcom parece ter levado a sério as queixas dos fãs e esmerou-se na criação de um amplo e vasto modo, oferecendo não uma mas seis grandes sequências, alusivas aos 30 anos da série e às suas seis grandes iterações, desde Street Fighter de 1987 até Street Fighter V, em 2016 (este ano celebra os 30 anos).

Cada sequência é composta por um número variável de combates, sendo que o mais curto corresponde ao original de 1987, no qual figuravam poucas personagens e por isso só permite 4 batalhas. Respeitando as personagens presentes em cada uma das séries, a Capcom foi ainda mais longe e remixou temas originais e preparou novos finais ilustrados para cada uma das personagens (alguns quadros resultaram de forma exemplar), recorrendo aos préstimos de antigos ilustradores e artistas com pergaminhos na série, sedimentando assim a veia nostálgica que deixará os fãs de barriga cheia.

Esse factor fica evidente na interrupção da sequência de combates no percurso alusivo a Street Fighter II, para um mini-jogo no qual terão que quebrar pipos lançados a partir de uma plataforma superior, estando no outro lado da arena um punk que vos atordoa e complica a tarefa. Existem ainda sequências de Street Fighter Alpha, Street Fighter III e Street Fighter IV, antes das 11 batalhas de Street Fighter V. Tendo em conta a sua extensão e quantidade de bónus desbloqueáveis, é não só um conteúdo que enobrece ainda mais o jogo como o complementa através de uma opção essencial e que deveria ter integrado a versão original. Felizmente, se pagaram por essa versão, poderão desfrutar deste e doutros conteúdos de forma gratuita.

Ao comprarem a Arcade Edition têm acesso diretro ao roster de 32 lutadores, o que significa que poderão jogar com as personagens adicionais da primeira e segunda temporadas, enquanto que os titulares da versão original terão que as adquirir separadamente ou então através do sempre moroso e enchido a conta-gotas sistema de fight money. O mesmo sucede com os cenários, alguns deles bloqueados e só passíveis de aquisição através de "fight money" ou por aquisição direta. No entanto, também neste quadro a Capcom apelou mais uma vez à nostalgia, acrescentando alguns clássicos como o famoso templo no Japão e, agora em Janeiro, Kasuganu Residence, ligado a Sakura.


Trata-se de um cenário quente e acolhedor, a típica residência japonesa suburbana com a área de recreio adjacente onde decorre o combate. Vê-se um canito junto de uma casota e o irmão mais novo de Sakura a jogar na sua consola, sentado no chão, enquanto se vê um Maneki Neko (gato da sorte) sobre uma estante. Ali, Sakura combate em casa. Lutadora que por seu turno empresta um estilo de combate peculiar, muito "shotokan" e por isso uma boa opção no quadro de outros lutadores como Ryu ou Ken. À semelhança de outras personagens que viram renovadas as suas indumentárias e fatos, Sakura também apresenta um novo trajo e sobretudo apresenta um conjunto de combinações que podem surpreender nas batalhas online, sendo frequente a sua utilização.

A estabilidade nos desafios online é boa e de um modo geral a experiência é fluída e sem quebras, embora por vezes ocorram falhas e mesmo retiradas do rival em pleno combate o que pode ser um tanto frustrante. Nas batalhas de saguão pode acontecer um acompanhamento tardio que se reflecte depois numa espécie de fast forward até ao momento do combate em tempo real praticado pelas personagens. Exceptuando alguns compassos de espera, os combates tendem a decorrer de forma agradável e muito satisfatória.

Também neste quadro somos brindados com alguns detalhes lançados pelo narrador/a, em jeito de antevisão, que nos lembram a posição no ranking mundial e a quantidade de vitórias e derrotas que alcançamos com a personagem selecionada. Tudo muito "pro". As batalhas em rede permanecem como um ponto alto da experiência, onde se compete mas onde também se treina e evolui muito. Se são novos no gênero e estão a começar do zero não tenham receio em acumular muitas derrotas na fase inicial. Apesar da maior acessibilidade, num quadro de elevada e competição é natural encontrarem adversários fortes e mais calejados. Mas uma observação dos seus movimentos e domínio das técnicas ofensivas e sobretudo as defensivas, é essencial para começarem a pular no rank.

A componente dos treinos e os desafios opera uma função essencial, dar a conhecer os movimentos e combinações de golpes, muitos deles bem difíceis de conduzir, embora com uma janela de oportunidade maior do que qualquer outra edição da série. O destaque neste quadro vai para o modo Extra Battle, uma opção que a troco de uma soma de fight money vos leva a participar em 4 combates consecutivos. Se saírem vencedores em todos ganham um fato especial (Viewtiful Joe para Rashid). Podem tentar o número de vezes que quiserem, não há limite. É justo o preço a pagar pelo desafio por aquilo que oferece.

Outra novidade desta Arcade Edition é a adição de um segundo V-Trigger, modificando sobremaneira a abordagem a lutadores que nos parecem menos interessantes ou não se adequam tanto ao nosso estilo de luta. Assim é provável que venham a experimentar mais lutadores. Ryu, por exemplo, ganha com este segundo V-Trigger mais versatilidade quebrando o ataque do adversário em situações de maior dificuldade. Em todos os utilizadores florescem novas possibilidades de ataque e isso traz mais ar fresco e imprevisibilidade, fator que já era grande pelas mudanças operadas da passagem da quarta para a quinta edição e que assim se amplia.

Em termos visuais, Street Fighter V permanece como um dos jogos de luta mais bonitos. É verdade que o estilo visual é muito próximo do empregue na quarta edição, sendo muito diferente de todos os anteriores, especialmente da versão Alpha, muito próxima do anime. No entanto, as personagens foram redesenhadas e no geral os criadores do departamento de arte saíram-se bem, com resultados impecáveis. As animações são muito boas e os efeitos dos movimentos, especialmente dos critical envolvem as personagens num furacão e cores. Os cenários são na sua esmagadora maioria bem inspirados, com novos temas associados, sendo afectados por bons efeitos, com destaque para o templo abandonado, um dos meus favoritos.

Com esta mesma versão arcade edition de SF V a chegar aos salões de jogos japoneses, a Capcom corrigiu imensas falhas que afetaram o original da PS4 e PC e entregou a versão moderna de um SF que os fãs e entusiastas de fighting games queriam voltar a jogar. É um jogo que se percepciona como completo, redesenhado, equilibrado e qualificado para os grandes torneios. Bons tempos para os jogos de luta, com mais opções e novos "fighters" em cena, mas a AE de SF V posiciona-se entre os melhores, oferecendo uma das mais ricas e desafiantes experiências. Continua exigente e é suficientemente complexo para juntar os fãs de sempre, mas é também inclusivo e receptivo aos principiantes.

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