É o vai ou racha.
Assassin's Creed Shadows promete ser um ponto de viragem para a Ubisoft: o estúdio tem passado por uma fase muito atribulada, com uma série de títulos que ficaram muito aquém do esperado. Vários jogos de alto calibre - como Skull & Bones, XDefiant e até mesmo Star Wars Outlaws - obtiveram uma resseção amena por parte do público, e Shadows é a última réstia de esperança para um estúdio que, em tempos, dominou o mercado gaming.
Estamos perante uma situação de "vai ou racha". A Ubisoft precisa que Assassin's Creed Shadows resulte para ganhar novamente a confiança dos jogadores. Relativamente à opinião da comunidade gaming, parece-me haver argumentos a favor e contra o jogo: por um lado, temos o período histórico mais pedido de sempre, o Japão feudal, que será certamente um fator muito atrativo; por outro lado, as controvérsias relativamente à escolha de determinadas personagens poderão influenciar negativamente o seu desempenho.
De uma forma geral, o posicionamento do jogo parece-me um pouco instável, mas nada está perdido. A Ubisoft deu-nos a oportunidade de experimentar cerca de 4 horas do jogo que, apesar de diminutas e de apenas representarem uma fatia muito pequena do jogo, já nos dá uma ideia muito clara daquilo que nos espera.
A demo consistiu essencialmente em duas metades: a primeira representava o prólogo do jogo, sobre o qual não me posso alongar muito, e que muito me fez lembrar da série Shogun; por sua vez, a segunda parte permitiu-me completar várias missões de uma fase mais avançada na história onde pude desfrutar dos vários sistemas em vigor no jogo e da bela recriação de um Japão ancestral.
Um Japão feudal de cortar a respiração
Templos altíssimos, portões torii e cidades fervilhantes pontilham o amplo mapa do jogo, tão prazerosos de percorrer quer a pé, quer a cavalo. Num âmbito mais rural, belos campos floridos e plantações altíssimas de bambu parecem ser retirados de uma pintura, sempre com muitos animais e aldeões à mistura nas suas lides diárias. Veados percorrem as florestas e shiba inu muito fofos correm alegremente pelas ruas enlameadas, criando uma atmosfera rica e deslumbrante que tanta vontade me deu em explorar. De palácios luxuosos com cerejeiras enormes a longos arrozais que brilham à luz do sol, a Ubisoft não se esqueceu de nada.

Tendo em conta o tempo reduzido que tive com a demo, é impressionante a quantidade de locais que pude visitar e tarefas que completei, e espero que haja muitas surpresas e variedade de missões quando o jogo chegar às mãos dos jogadores.
Os pilares clássicos de um Assassin's Creed estão todos lá: um mundo de jogo vasto e belo recriado ao mais pequeno detalhe, o parkour radical, a verticalidade da arquitetura, os múltiplos meios de locomoção e os vários inimigos espalhados pelo ambiente. Tal como manda a tradição, não existe uma forma específica de abordar uma determinada situação, com o jogo a conferir uma grande sensação de liberdade e escolha: se gostas de um gameplay mais furtivo, eliminando dissimuladamente cada um dos inimigos, Naoe será então a protagonista ideal para ti; no entanto, caso sejas fã de ação louca e não tens medo de enfrentar as legiões de soldados, Yasuke é um tanque feroz e imprescindível.

Joguei maioritariamente com Naoe, aplicando aquilo que apelidei de "tática cobarde": usando a vegetação alta, coberturas e assobios, o meu objetivo era eliminar os inimigos um a um, pela calada, tentando fugir ao máximo do confronto direto. Estes foram os meus momentos favoritos com a demo, obrigando a um cuidado acrescido e a uma monitorização do comportamento dos NPC para criar uma estratégia eficaz: caso fosse descoberto, fugia a sete pés até desaparecer do seu campo de visão.
Liberdade para fazeres o que quiseres
O combate do jogo é bastante intuitivo e fácil de assimilar, com a possibilidade de desferir ataques leves/pesados, fazer parry, desviar, atirar projéteis, entre uma série de outros movimentos devastadores que espoletamos ao premir certos botões em simultâneo. Na dificuldade que joguei, Assassin's Creed Shadows provou ser desafiante: os inimigos atacam sem dó nem piedade, detetam-te mais frequentemente (mesmo que estejas em telhados) e perseguem-te implacavelmente, dando-me a entender que a sua inteligência artificial foi melhorada.
Em nossas mãos, temos um grande arsenal de armas e mecânicas ao dispor, muitas delas provenientes de jogos passados da saga. Eagle Vision, adagas ou bombas de fumo estão de volta, mas Naoe tem acesso a outros itens importantes como shurikens ou uma corda que lhe permite rapidamente aceder a telhados altos. A quantidade de opções disponíveis é insana, o que significa que existem abordagens infinitas para completar uma missão ou eliminar um inimigo - e esse é um dos pontos-chave do jogo.

A versão que joguei não é definitiva, sendo que a Ubisoft ainda tem tempo de limar algumas arestas até ao lançamento do jogo em março. Ao longo das 4 horas do jogo não houve momentos que, quer graficamente, quer a nível técnico, tenham chamado a minha atenção de uma forma negativa. O único problema que consigo apontar não é novo e tem vindo a acompanhar a saga ao longo dos anos: o parkour é um pouco desajeitado.
Algumas arestas a limar
Percorrer os telhados do Japão feudal nem sempre corre conforme o esperado, com Naoe a saltar, descer ou empoleirar-se sem a minha autorização. Não sei se é falta de jeito ou se tem a ver com a geometria japonesa, mas preparem-se para a vossa personagem saltar para o sítio errado, dirigir-se para um local diferente ou não escalar uma parede mesmo quando primes os botões corretos. É também possível que alguns destes problemas tenham sido exacerbados pelo facto de estar a jogar a demo em streaming, com a conexão da internet a ter um papel preponderante aqui.
Assim sendo, se gostas da fórmula clássica de Assassin's Creed, não há como não gostares de Shadows. Misturando combate, stealth e exploração num só embrulho, adornado com a peculiar mas aliciante cultura japonesa, o potencial é enorme e nota-se que a Ubisoft depositou muito cuidado na sua criação. Em sentido inverso, se já te saturaste do gameplay da saga, não vi em momento algum nada que rompesse com aquilo que foi feito em jogos prévios, mas volto a reforçar a ideia de que joguei apenas uma demo de um produto não finalizado.
Um novo começo para a Ubisoft?
Espero enternecidamente que Assassin's Creed Shadows não tenha chegado tarde demais e que a Ubisoft consiga recuperar a reputação que tem vindo a ser manchada ao longo dos últimos lançamentos. Assassin's Creed Shadows parece ser um passo na direção certa, um best of de tudo aquilo que tornam estes jogos tão especiais: conflito político, mundos vivos e expansivos, períodos históricos emocionantes e liberdade para fazermos o que bem entendermos. O rumo é este.